Se as pessoas viverão mais, a lógica
indica que se deve planejar a velhice.
Mas poucos querem pensar sobre isso
Por Gabriella Sandoval
Já que você tem a sólida possibilidade de chegar aos 80 anos, em decorrência do aumento da expectativa de vida do brasileiro , é preciso pensar seriamente no que fazer diante da perspectiva de sofrer de algum problema relacionado ao envelhecimento. Nem é preciso pensar em Alzheimer. Basta imaginar uma dificuldade motora ou mesmo a simples rabugice que em muitos casos pode tornar difícil a convivência com pessoas mais jovens. Segundo um estudo da professora de gerontologia da PUC-SP Ursula Karsch, 40% dos brasileiros com mais de 65 anos precisam de algum tipo de ajuda para realizar tarefas do cotidiano. Outro estudo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ainda inédito e em fase final de preparação, mostra que apenas 100 000 dos 2 milhões de idosos dependentes estão em instituições especializadas. “A sociedade não está preparada para cuidar do parente que envelhece”, afirma a pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Ipea. “Muitos lares não têm sequer espaço físico, muito menos estrutura emocional e financeira para lidar com esse tipo de situação.” Por isso é tão freqüente haver brigas de família para saber quem vai cuidar do vovô – e muitos idosos simplemente perdem o direito a um endereço fixo, morando ora com um filho, ora com outro, sentindo-se um peso para todos.
Heudes Regis
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A questão precisa ser encarada com realismo e respeito. Em alguns casos, despesas com medicamentos, enfermeiro e um bom plano de saúde podem atingir 3 000 reais mensais. Raríssimas são as famílias que podem despender esse dinheiro, e mais raro ainda é encontrar um plano de saúde que não tenha cláusulas escritas simplesmente para ejetar os idosos ao menor sinal de doença crônica. Para complicar, a saída mais comum, ter o idoso convivendo no meio da família, é geralmente causadora de muitos conflitos. Uma pesquisa da International Stress Management Association do Brasil indica que 40% das pessoas que têm de cuidar de idosos dependentes se sentem “usadas” e “injustiçadas” e 70% se desentendem com o cônjuge e os filhos devido à constante dedicação que a situação exige. “Um contratempo, como um dia sem enfermeiro, ou situações mais complicadas, como a convivência com os sintomas de Parkinson ou Alzheimer, podem acarretar um grande stress familiar”, alerta o geriatra Clineu Almada Filho, do Hospital Albert Einstein.
A primeira solução é a pessoa ter uma poupança ou aposentadoria que lhe permita continuar tomando decisões sobre o próprio destino mesmo com a idade bem avançada. A segunda passa pela destruição de um mito – o de que uma casa de repouso para idosos é um depósito de gente abandonada pela família. É óbvio que, enquanto a saúde permitir, todo idoso tem o direito de viver num endereço comum, de preferência em contato com os objetos e a vizinhança aos quais se habituou. Se, no entanto, os problemas da idade já não permitem que isso aconteça, mudar-se para um asilo pode ter vantagens maiores do que ocupar um quarto na casa de um filho. A primeira é a de conviver com pessoas com os mesmos interesses. Outra é a de ter amparo sem se sentir culpado. Uma terceira é a de ter convivência com filhos e netos não tão intensa a ponto de provocar conflitos.
Muito difundidos na Europa, mas já existentes também no Brasil, os condomínios para a terceira idade funcionam como casas de repouso de qualidade. Mais que um abrigo, os moradores encontram nessas instituições de longa permanência um lar – que pode ser mobiliado por eles próprios –, atendimento médico e ambulatorial, fisioterapia e atividades físicas. “A visão dos asilos como locais de abandono está com os dias contatos”, diz a pesquisadora Ana Amélia, do Ipea. A mensalidade de um desses condomínios custa a partir de 2 000 reais, mas pode chegar a 7 000 reais conforme os serviços oferecidos.